sexta-feira, 7 de agosto de 2009

O desafio da sustentabilidade

Por: Luana Lila

Como preservar com desenvolvimento? Essa questão, que ainda não encontrou uma resposta única ou definitiva entre os ambientalistas, foi o centro da fala da ex-ministra do Meio Ambiente e atual senadora do Acre, Marina Silva, em sua participação no 10º Congresso da CUT na manhã da quarta-feira, 5.

“Quando se fala que estamos vivendo uma crise, é normal que as pessoas se preocupem com a crise econômica, pois isso pode afetar os empregos, mas a crise ambiental é igualmente grave, ou até mais grave, e as pessoas não fazem ligação disso com a sua vida”.

A ex-ministra afirma que a humanidade vive um desafio civilizatório: pensar e viver de acordo com um novo modelo de desenvolvimento em que seja possível produzir sem comprometer a capacidade do sistema. “O problema não tem resposta à curto prazo, por isso as pessoas o transferem para o futuro”. Mas, com os dados alarmantes apresentados pela senadora, não é possível esperar mais. Segundo ela, se, por causa do aquecimento global, a temperatura no Brasil aumentar em apenas 2 graus, 40% da cobertura florestal da Amazônia será perdida. Atualmente, a região produz 20 bilhões de toneladas de água por dia e é responsável por 26% de toda a água lançada nos oceanos.

É por isso que Marina acredita ser necessária uma mudança de paradigma, pensar um novo modelo de produção e consumo. E isso, de acordo com ela, é uma questão de ética. Já ficou provado que o padrão de qualidade de vida espelhado na sociedade norte-americana não é capaz de incluir a todos, mesmo porque, se incluísse, demandaria tantos recursos que apenas um Planeta Terra não seria suficiente: “Não é ético porque nem todos terão acesso. Repensar esse modelo não significa viver mal, mas pensar a responsabilidade que temos de uma mudança estrutural. A economia no século XXI terá que necessariamente integrar desenvolvimento e preservação”.

Trata-se de uma transformação que, de acordo com Marina, faz parte de todas as esferas da vida. Envolve a sustentabilidade ambiental, mas também a sustentabilidade política, pois será necessária uma base social comprometida com essa mudança, “não vai acontecer do governo para a sociedade, mas do governo com a sociedade”.

A senadora também mencionou a importância do conceito de sustentabilidade cultural, a partir de um desenvolvimento que não permita que a base social e cultural de um povo seja perdida. Como exemplo, Marina citou a questão da Raposa Serra do Sol, a reserva indígena recentemente homologada que trouxe uma discussão sobre a permanência de arrozeiros na região. “Arroz se planta em qualquer lugar, mas um povo com aquela cultura e cosmovisão só existe naquele lugar do planeta. É avançada e desenvolvida uma sociedade que vai destruir isso para plantar arroz? O modelo de desenvolvimento tem que ser diversificado e há lugar para todos.” Nesse ponto, Marina ressalta a importância e a contribuição de povos que não vivem de acordo com os postulados da cultura ocidental para agregar seu conhecimento na formulação desse novo paradigma.

“Não temos que fazer o mesmo que os americanos e europeus fizeram. Temos que exigir transferência tecnológica e recursos. O Brasil é uma potência ambiental e precisa fazer jus ao que é. O modelo deve mudar e o processo deve começar agora”.

Fonte: http://www.cartacapital.com.br/app/materia.jsp?a=2&a2=8&i=4738

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